MODA: COMO OSWALD DE ANDRADE E TARSILA DO AMARAL USARAM AS ROUPAS PARA CRIAR O IMAGINÁRIO MODERNISTA
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Moda: como Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral usaram as roupas para criar o imaginário modernista
Natural, portanto, que a figurinista e professora de história do vestuário e da moda Carolina Casarin tenha partido dos dois garotos-propagandas do modernismo para contextualizar a moda daqueles tempos loucos. “O guarda-roupa modernista” (Companhia das Letras, 288 páginas, R$ 109,90) se apoia em registros da época — como cartas, retratos, autorretratos, textos literários e as poucas peças de roupas que sobraram — para refletir sobre as relações entre indumentária e imagem social. Sua pesquisa foca no período em que Oswald e Tarsila estiveram juntos, mas não se limita ao casal. Analisa a repercussão da moda em outros protagonistas do movimento, viaja por Europa e EUA em busca das origens do vestuário moderno. Abaixo, alguns dos principais pontos do livro.
O visual Tarsiwald
Tarsila e Oswald tinham estilos diferentes: ela abusava de criações de costureiros europeus, enquanto ele destoava da sisudez tradicional com camisas coloridas e informais. O autor de “O rei da vela” se aproximava do visual do businessman norte-americano, mais dinâmico que o britânico, combinando trajes sociais com as cada vez mais valorizadas roupas esportivas. Colarinho mole, terno sem colete, tecidos que amarrotavam menos e modelagens mais amplas eram algumas das características a serviço da vida agitada do homem de negócios.
Tarsila, por outro lado, gostava de exuberância, luxo e ostentação. Nada a ver com o ideal feminino da Chanel ou da garçonne do pós-guerra (muito embora esta última, segundo Casarin, fosse tão idealizada que não se encaixava na realidade de quase nenhuma mulher de seu tempo). O responsável por criar a aparência da artista desde 1923 até o fim da década foi o costureiro francês Paul Poiret, cujos trajes caríssimos impressionavam no Brasil mas já eram considerados um tanto antiquados na França.
— Os signos de modernidade dos anos 1920 não necessariamente são encontrados no guarda-roupa da Tarsila — diz Casarin. — Mas é importante pontuar que sua aparência muda a partir do momento em que ela se interessa pela arte moderna. Tarsila já se interessava por moda, mas de outra maneira. É aí que ela procura Poiret e se torna esta mulher cada vez mais confortável em ser o centro das atenções.
Caipirinha por Poiret
A maison Poiret era tão importante para Tarsila que Oswald a insere na primeira estrofe de seu poema “Atelier”, de “Pau-Brasil”: “Caipirinha vestida por Poiret/ A preguiça paulista reside nos teus olhos/ Que não viram Paris nem Picadilly/ Nem as exclamações dos homens/ Em Sevilha/ À tua passagem entre brincos”. Poiret era sinônimo de autoconfiança, e os ajudava a serem aceitos por seus pares.
— A ideia de uma “caipirinha de Poiret” pode ter vários significados — diz Casarin. — Um deles é usar a alta costura estrangeira para legitimar a arte brasileira moderna. Olha essa caipirinha que vocês estão vendo, ela veste Poiret, tá?
Imagem de poder
Pensando em termos de grupo, o guarda-roupa modernista representou a construção de imagem de poder. Mas, embora Tarsila dissesse que “costumava lançar modas”, ainda não há pesquisas que mostrem outras mulheres da época tentando copiar seu estilo. A escritora também acredita que o Casal 20 do modernismo não chegou a ter uma preocupação em formar uma moda brasileira. Quem chegou mais próximo disso foi Mário de Andrade, o homem que cunhou o apelido Tarsiwald.
— Para ele, a busca pela identidade nacional passava pela aparência — diz Casarin. — Já para Oswald e Tarsila, o que estava em jogo na aparência era uma identidade moderna. Porém, vale lembrar que eles fizeram um uso antropofágico do vestido de casamento de Tarsila, ligando o vestido da mãe de Oswald com a costura de Poiret.
Fonte:https://oglobo.globo.com/cultura/livros/moda-como-oswald-de-andrade-tarsila-do-amaral-usaram-as-roupas-para-criar-imaginario-modernista-25380867
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